Bumlai se mantém calado e não responde Vidigal em CPI

Atuação Imprensa

Convocado pelo deputado federal Sergio Vidigal (PDT-ES) a prestar esclarecimentos na CPI do BNDES, o pecuarista e amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai esteve hoje em Brasília. Durante a oitiva, Vidigal questionou o pecuarista a respeito dos débitos na ordem de R$ 400 milhões com o BNDES e as garantias oferecidas no contrato.

Durante todas as perguntas do parlamentar capixaba, o pecuarista preferiu manter o silêncio, segundo ele, sob orientação dos advogados. Mesmo assim, Vidigal prosseguiu utilizando seu tempo de fala para fazer seus questionamentos.

No primeiro contrato de Bumlai firmado com o BNDES, com data de 12/12/2008, sob o número 08.2.1031.1, o valor do financiamento é de R$ 330.509.000,00 (trezentos milhões e quinhentos e nove mil reais). Em qualquer financiamento, o BNDES pede garantias entre 100% e 130% para que o empréstimo seja concedido.

A garantia dessa operação foi um terreno em torno de 85 hectares e avaliado em R$ 2 milhões (cláusula décima segunda), ou seja, menos de 1%. Teve como fiadoras a Heber Participações S.A e a São Marcos Energia LTDA (cláusula decima oitava). O segundo contrato em 03/02/2009, número 08.2.1032.1, foi de R$ 64.664.000,00 (sessenta e quatro milhões, seiscentos e sessenta e quatro mil reais) também com garantia do terreno de 85 hectares.

“O BNDES esclareceu que a modalidade de financiamento previa uma garantia evolutiva, ou seja, a empresa beneficiada pelo financiamento ia elevando a garantia inicialmente oferecida. No caso, a usina em construção e maquinários foram sendo dados como garantia à medida em que os desembolsos eram feitos pelo BNDES”, afirmou o deputado.

Fachada da sede do BNDES em Brasília.
Fachada da sede do BNDES em Brasília.

Em 16/07/2010 foi feito um aditivo sobre o primeiro contrato e o terreno de 85 hectares para a ter uma reavaliação de mais de 200 milhões, ou seja, mais de 100 vezes a avaliação original.
“O que aconteceu de tão espetacular com este terreno que fez ele se valorizar tanto? Foi achado ouro ou petróleo nessa área? Quem fez a reavaliação deste terreno? O BNDES sempre aceita esta reavaliação, sem fazer sua própria reavaliação?”, questionou o pedetista.

Analisando os contratos do BNDES, Vidigal percebeu que em relação ao segundo empréstimo, no valor de R$ 64.664 (sessenta e quatro milhões e seiscentos e sessenta e quatro mil) em 03/02/2009, foi oferecida a mesma área, em hipoteca, só que em segundo grau, pois já estava hipoteca por conta o primeiro crédito.

“Já em 16/3/2012, 80ha 2.121 m2 dessa mesma área, foram avaliados em R$ 435.126 (quatrocentos e trinta e cinco mil e cento e vinte e seis mil reais). Pergunto novamente como foi possível tomar dois empréstimos de valores tão elevados com uma garantia avaliada inicialmente em, apenas R$2 milhões? O que fez com que o terreno de R$ 2 milhões em outubro de 2007, passasse a valer R$ 435 milhões em 16/3/20012”, questionou o pedetista Sergio Vidigal.

São Fernando Energia I
A São Fernando Energia I é uma das empresas criadas por José Carlos Bumlai para gerar energia a partir do bagaço de cana. Em 2011, antes de receber o dinheiro do BNDES, ela já acumulava dívidas 9,5 vezes maior do que seu patrimônio líquido. Em julho de 2012, a São Fernando Energia, recebeu R$ 101,5 milhões, por meio do BTG Pactual e do Banco do Brasil. O banco teria driblado normas internas, que o impedem de emprestar a empresas com pedido de falência na Justiça
“Gostaria que o senhor nos explicasse como o senhor conseguiu empréstimos nestas condições? ”, questionou o deputado.

Usina de São Fernando / Foto: Divulgação
Usina de São Fernando / Foto: Divulgação

O site www.oantagonista.com publicou em sua página que “em abril de 2013, a São Fernando de Bumlai devia 1,2 bilhão de reais na praça. Metade dessa quantia ao Banco do Brasil e ao BNDES. Em maio do mesmo ano, Bumlai vendeu a Fazenda Cristo Rei, de 116 mil hectares, igualmente no Mato Grosso do Sul, ao BTG Pactual, de André Esteves, num pacote de renegociação da sua dívida com o banco. A fazenda mudou de dono, mas Lula continuou a pescar na Cristo Rei, que abrange uma parte do Pantanal. Ia para lá no jatinho do amigão Jonas Barcellos, maior criador de gado nelore do Brasil.”

O pedetista ainda pediu que o pecuarista explicasse sua relação com o senhor André Esteves que foi preso pela polícia federal em operação da Lava-Jato.

Tráfico de influência e terras superfaturadas
No Blog Reinaldo Azevedo, na Revista Veja, de 16/10/2015, trazia a informação de que “em 2010, o Incra comprou terras suas para a reforma agrária. Uma perícia revelou um superfaturamento, em uma única operação, de R$ 7,5 milhões. O homem, um pecuarista, participou da formação de consórcio para a construção da usina de Belo Monte. Bumlai também aparece fazendo pressão para o Banco do Brasil patrocinar a empresa de games de Lulinha. Mais: segundo Marcos Valério, aquele do mensalão, foi o pecuarista que arrumou dinheiro para pagar um chantagista que ameaçava envolver Lula na morte do prefeito Celso Daniel. Mais um pouco? Em 2013, mais da metade da dívida bilionária da usina de açúcar álcool do amigão de Lula estava com o BNDES e o Banco do Brasil, dois entes públicos.”

Durante a CPI, Vidigal afirmou que qualquer pessoa é inocente até que se prove o contrário, apesar desta quantidade de indícios contra Bumlai. “Queremos ser  convencidos de que não houve tráfico de influência nestas várias citações”.

Pelé dos negócios
De certa feita o ex-presidente Lula disse que o filho dele era o “Ronaldinho dos negócios”. “Parece que o senhor se tornou o ‘Pelé dos negócios’ com participação e influência em vários setores”, comparou Vidigal. A Revista Veja, de 18/08/2012, trouxe que “o que era para ser uma missão de interesse exclusivamente público começou a derivar para o lado oposto. O governo descobriu que o pecuarista estava usando a influência e o acesso consentido ao palácio para fazer negócios privados. O Planalto foi informado de que Bumlai, por conta própria, estaria intermediando a compra de turbinas para a usina de Belo Monte com um grupo de chineses. A orientação do governo era exatamente contrária: em vez de importar peças, elas deveriam ser produzidas no Brasil, para criar empregos aqui”.

Mais à frente a reportagem cita que:  “o grupo Bertin caiu fora de Belo Monte. O BNDES não aceitou as garantias oferecidas para conceder o empréstimo. Mas o amigão de Lula sempre contou com a generosidade do banco oficial. ”
Neste momento Vidigal questionou como um empresário do ramo de pecuária estava envolvido na construção de uma das maiores usinas do Brasil e como se deu a participação de Bumlai neste empreendimento.

Intimidade com o ex-presidente Lula
Em entrevista a um meio de comunicação, Bumlai informou que não tinha intimidade com o ex-presidente

Ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). / Foto: Divulgação
Ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). / Foto: Divulgação

Lula e sua família. No entanto, alguns fatos chamou a atenção do pedetista. “O Senhor dividia em São Paulo, até o início da Operação Lava-Jato, o mesmo escritório usado por Fábio Luiz Lula da Silva e Luiz Cláudio Lula da Silva, filhos de Lula. O cartaz que foi afixado na portaria do Palácio do Planalto que dizia: ‘O Sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria Principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância’. O senhor viajava na mesma cabine que o ex-presidente Lula no avião presidencial e participava de churrascos no Palácio do Alvorada e de pescarias em Mato Grosso do Sul. Tendo em vista os vários fatos anunciados pela mídia em relação à participação do Senhor na operação Lava-Jato, como era a sua relação com o poder? Quais vantagens o senhor recebeu diretamente por manter essa amizade”, finalizou Sergio Vidigal.